7. 2. AMOSTRAGEM (de solo) (1)
A amostragem de qualquer material a ser submetido à análise em laboratório representa um ponto critico dentro do processo analítico.
A porção em estudo, a amostra, deve representar fielmente o todo de onde provém, pois as características desse todo serão obtidas a partir da extrapolação dos resultados provenientes da primeira. O solo pode servir como um bom exemplo de complexidade quanto à amostragem, pois é um sistema dinâmico do ponto de vista físico, químico e biológico. Suas características variam acentuadamente tanto quando se percorre sua superfície, como quando se aprofunda ao longo de seu perfil. É importante ressaltar ainda que alguns gramas de solo amostrado representarão muitos hectares de área cultivável. Em geral, a recomendação inicial para amostragem de solo determina que a área total em estudo seja dividida em subáreas homogêneas; isso já representa uma dificuldade, pois o critério de homogeneidade é subjetivo, além do que uma uniformidade observada visualmente pode encobrir variações pronunciadas nas características físicas ou químicas, só detectáveis através do processo analítico. Cabe ainda ressaltar que, na cultura da cana-de-açúcar, toma-se como unidade operacional o talhão ou quadra, área para qual se definem as atividades como preparo de solo, plantio, tratos culturais e inclusive adubação. A delimitação do talhão, procurando atender a diversos fatores, como entrega de matéria-prima para a indústria, vias de acesso, topografia etc., pode mascarar o efeito da variação das propriedades químicas do solo. Assim, quando se efetua amostragem do talhão, pode-se estar englobando manchas de solo com grande diversidade, numa mesma amostra. HAUSER(21) apresenta uma interessante quantificação dos erros a que a determinação do teor de nutriente está sujeita. Dessa forma verifica-se que de 80% a 85% do erro total podem ser atribuídos à amostragem no campo, os 20% a 15% restantes podem ser decorrentes do trabalho em laboratório, que compreende subamostragem e determinação analítica. Na verdade, a determinação analítica representa fração do total que raramente ultrapassa 5%. CLINE(11) discute os princípios básicos da amostragem de solo. Para seleção das unidades de amostragem, o autor estabelece que a caracterização de uma área só será possível se as unidades forem coletadas ao acaso e provenientes de toda sua extensão, ou seja, não se podem extrapolar características determinadas numa fração da área para as partes excluídas. Toda unidade de amostragem deve ter igual probabilidade de ser coletada e a estimativa da significância e dos limites fiduciais requer que toda amostra, formada por "n" unidades, tenha a mesma probabilidade de ser coletada. Além desse trabalho, podem ser considerados como básicos os trabalhos de REED & RIGNEY(48) e de HAMMOND(19), entre outros. Geralmente se efetua a análise química numa amostra composta, formada pela reunião de amostras individuais, o que representa uma simplificação do trabalho de campo e de laboratório. Esse procedimento implica admitir que o resultado obtido para amostra composta seja equivalente à média dos resultados que seriam obtidos nas amostras individuais. Segundo PETERSEN & CALVIN(44), a validade dessa hipótese depende de certas condições, como a de que todas as subamostras reunidas contribuam com a mesma quantidade de material. CLINE(11) ainda comenta que não poderiam ocorrer interações entre as porções de solo reunidas, como, por exemplo, o fósforo prontamente disponível de uma fração ser fixado por uma outra. Ressalte-se que apenas a estimativa da média será obtida através da amostra composta, não sendo possível nenhuma indicação da variação e consequentemente da precisão da média. As propriedades químicas do solo são afetadas por variações sazonais em grau variável, fato que determina maior cuidado na comparação de resultados compilados durante vários anos. A precisão da média obtida para a amostra composta aumenta com o número N de unidades que a compõe por fator 1/vN. Indica-se, portanto, um número de subamostras entre 15 e 40, pois acima desse limite o ganho em precisão é inexpressivo(21). Observe-se que o número de subamostras ou amostras simples é sugerido independentemente da área considerada, o que pode, à primeira vista, parecer contraditório. Valores comumente sugeridos são de 15 a 20 subamostras por área homogênea selecionada, observando declividade, cor, tipo de solo, histórico de adubações anteriores etc. (56,50). Considerando-se que a cana-de-açúcar é uma cultura extensiva e que cada unidade produtora promove anualmente a reforma de muitos hectares, do ponto de vista prático, uma amostra composta de solo muitas vezes representa mais que um talhão. Assim, ZAMBELLO JR. & ORLANDO Filho(60) sugerem, após o estabelecimento das áreas homogêneas, a coleta de uma amostra simples (30 cm de profundidade) a cada 2 ha. Na amostragem de solo para as soqueiras de cana, ocorrem certas interferências que podem ser entendidas da seguinte forma: se a amostragem é feita na linha de plantio, a mesma indicará maior fertilidade que a real, pois existe o efeito residual de adubação de plantio, principalmente para o fósforo. Se a amostragem for efetuada na entrelinha, não se estará considerando o adubo residual e ocorrerá uma avaliação irreal da área. Apesar disso, na África do Sul, na amostragem de solo para cana soca, utiliza-se a proporção de 8 furos na entrelinha para 1 furo na linha(52). Como acontece em inúmeros países produtores, inclusive na África do Sul (41), existe uma tendência de se fazer recomendação de fertilizantes para a cana planta e soqueiras subsequentes (programações de adubação), com base apenas nos resultados analíticos das amostras que antecederam o plantio, as quais são correlacionadas, através de ensaios de campo, com dosagens e efeitos residuais.(1)
Orlando Filho, J. & Rodella, A.A. in: Nutrição e adubação de cana-de-açúcar no Brasil IAA/ Planalsucar 1983 Piracicaba páginas 151/178.Referências bibliográficas
11. CLINE, M.G. Principles of soil sampling. Soil Science, Baltimore, 58:275/278, 1944.
19. HAMMOND, L.C.; PRITCHET, W.L.; CHEW,V. Soil sampling in relation to soil heterognity. Soil Science Society of American Proceedings. 22:548/552, 1958.
21. HUSER, G.F. The calibration of soil tests for fertilizer recommendation. Roma, FAO, 1973. 71p. (Soil Bull., 18)
41. ORLANDO FILHO, J. & ZAMBELLO JR., J. Viagem de estudos à África do Sul, Filipinas, Havaí e Louisiana. Piracicaba, IAA/PLANALSUCAR, 1980, 48p.
44. PETERSEN, R.G. & CALVIN, L.D. Sampling. In: BLACK, C.A. ed. Methods of soil analyses pt. 1. Physical and mineralogical properties including statistics of measurement and sampling. Madison, American Society of Agronomy. 1965 p 1022/30.
48. REED, J.F. & RIGNEY, J.A. Soil sampling from fields of uniform and nonuniform appearence and soil types. Journal of American Society Agronomy, 39:26/40 1947.
50. SANCHEZ, P.A. Properties and management of soils in the tropics. New York, John Wiley, 1976. 618 páginas.
52. SASA Exp. Sta. Methods of sampling for fertilizer advice. Mont Edgecombe, 1963, 4pg (Bulletin 16).
56. TISDALE, S.L. & NELSON, W. L. Soil fetility and fertilizers. 3a ed. New York Mc Millan 1975, 694 páginas.
60. ZAMBELLO JR., E. & ORLANDO FILHO, J. Adubação da cana-de-açúcar na região centro sul do Brasil. Boletim Técnico PLANALSUCAR, Piraacicaba, 3 (3):1-26, março-1981.